Deixo aqui o link de um trabalho que eu e outros colegas publicamos sobre o tema na Clinical Therapeutics da Elselvier.

A testosterona, o principal hormônio sexual masculino, é crucial para a fertilidade. Ela atua em diversas etapas da espermatogênese, desde a divisão celular até a maturação dos espermatozoides. Níveis baixos de testosterona podem levar à infertilidade masculina, afetando a qualidade e a quantidade dos espermatozoides. No entanto, essa ação se dá a nível intratesticular, ou seja, ela precisa ser produzida nos testiculos e parte dela ser mantida dentro desse ambiente.

Em casos de reposição e abuso de testosterona e outros hormônios androgênicos (exemplo: nandrolona – deca, oxandrolona, oximetolona, stanozolol e afins) tem-se um valor normal ou elevado desses hormônios no sangue, mas não se tem uma quantidade adequada dentro dos tesciulos. Isso acontece pela inibição do eixo HPG.

Um dos principais mecanismos pelos quais a testosterona influencia a fertilidade é através do eixo HPG (hipotálamo-pituitária-gonadal). O hipotálamo, localizado no cérebro, libera GnRH (gonadotropina-releasing hormone), que estimula a glândula pituitária a produzir LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo-estimulante). O LH, por sua vez, atua nas células de Leydig nos testículos, promovendo a produção de testosterona. Já o FSH é responsável pela estimulação das células de Sertoli, que nutrem e suportam as células germinativas durante a espermatogênese.

Redução da Testosterona Intratesticular e Seus Impactos:

A inibição do eixo HPG, seja por medicamentos ou outras causas, pode levar à redução da testosterona intratesticular, essencial para a produção de espermatozoides. Essa queda na testosterona pode resultar em:

Azoospermia: Ausência total de espermatozoides no ejaculado.

Oligozoospermia: Redução significativa na contagem de espermatozoides, geralmente levando os homens a oligozoospermia severa (contagem menor que 5 milhoes de espermatozoides totais)

A média de espermatozoides de um homem adulto saudável circula entre 60-120MI e ainda temos a questão da qualidade dos espermatozoides, capacidade de nadar/motilidade, integridade do DNA etc.

Os trabalhos existentes sobre o tema demonstram que a terapia de reposição de testosterona, tanto na forma de reposição quanto no uso supra fisiológico, pode levar à azoospermia ou oligozoospermia severa em até 90% dos homens após 4 meses de tratamento. Essa infertilidade induzida pelo tratamento geralmente é reversível após a descontinuação da terapia, mas a recuperação da espermatogênese pode levar de 6 meses a 2 anos em média. Esse fator torna crucial a consideração da idade da parceira, pois o tempo de espera para a recuperação da fertilidade pode ser um desafio para casais que desejam engravidar e o fator feminino (idade da parceira, presença de baixa reserva etc) possua questões que dificultem a obtenção da gestação. O fato da mulher/parceira ter mais de 35 anos em média, já onera uma gestação de maior risco.

Portanto o planejamento da fertilidade é crucial quando um homem que precisa de reposição vai iniciar a terapia. Aqueles que estejam usando com outros intuitos também devem prestar atenção.

Pelas questões culturais, casais naturalmente já tem optado por terem seu primeiro filho com mais idade. Se não houve planejamento, as chances de necessitar de técnicas de reprodução assistida são grandes, sendo técnicas que podem envolver alto custo que nem todo casal pode arcar.

Uma análise do casal é sempre importante para que o planejamento seja feito de forma completa considerando os 2 elementos.

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