Você já ouviu falar que muita proteína pode sobrecarregar o rim? Você sabe o porquê?
A justificativa para isso seria o aumento da pressão e ritmo de filtração glomerular cronicamente, produzindo lesão renal.
Entretanto esse parece ser um mecanismo adaptativo normal, em resposta a uma cascata de eventos produzidos pela maior ingestão proteica. Enquanto que em indivíduos com doença renal crônica (DRC) a ingestão acima de 0,8g/kg/d leva a declínio acelerado da função renal, podemos interrogar se em pessoas com rins plenamente funcionantes também há essa preocupação.
Procurando evidências sobre isso, me deparo com uma metanálise de 2018 com um total de 1358 indivíduos estudados, apresentando a conclusão de que dietas high protein (HP) não prejudicam a função renal tanto em indivíduos sem fatores de risco para desenvolver DRC quanto naqueles que os possuem (diabetes, por exemplo) [1]. Uma revisão sistemática de 2019 tem conclusões parecidas [2].
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Outros estudos, conduzidos por 8 semanas e voltados primariamente para avaliar mudanças na composição corporal com dietas HP, em que houve análise metabólica dos pacientes antes e depois da intervenção, mostraram não haver redução na taxa de filtração glomerular (TFG) [3], [4]. Dois indivíduos tiveram uma ingestão extremamente alta (6,59 e 4,66 g/kg/d) e não apresentaram redução da TFG ou acúmulo de ureia [4].
Mais uma pesquisa mostrou que não houve redução da TFG ou qualquer outro efeito negativo em homens treinados com ingestão entre 2,51 e 3,32 g/kg/d durante 12 meses. Em relação ao consumo cotidiano dos participantes, a ingestão diária de PTN foi aumentada em 32% durante o estudo [5].
Dessa forma podemos ver que a “sobrecarga renal” devido a excesso proteico é, no mínimo, questionável. Os estudos mais recentes, apesar de ressaltarem a escassez de seguimentos mais longos, são consistentes em dizer que não há perigo aparente em dietas HP. O que nos cabe é ter bom senso, uma vez que quantidades além de 2,2g/kg/d não parecem ter maiores benefícios.
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